O Brasil vive uma discrepância no que diz respeito à saúde bucal. Por um lado, o País está à frente de grandes potências mundiais no que se refere a número de dentistas – de todos os profissionais do mundo, 11% estão aqui. Também contamos com o curso de odontologia da USP (Universidade de São Paulo), ocupando a primeira posição na classificação mundial dentre as quase 700 instituições ranqueadas pelo SIR (SCImago Institutions Rankings).

Por outro lado, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam para dado estarrecedor: 11% da população brasileira nunca foi ao dentista. Entre eles, 2,5 milhões são adolescentes. No Brasil, 8 milhões de pessoas com mais de 30 anos já usam prótese e três em cada dez idosos não possuem nenhum dente.

É necessário levar em conta o impacto dessa situação na saúde pública e não digo isso apenas em tempos de pandemia. A falta de prevenção e cuidados com a saúde bucal pode acarretar em série de problemas que vão impactar outras áreas da saúde, como problemas estomacais, diabetes, processos inflamatórios em regiões como coração e pulmão, contaminações por vírus e bactérias, dores de cabeça, hipertensão arterial, entre outras. Isso sem falar nos males da própria boca, como câncer bucal, entre outros.

O Brasil investe em campanhas importantes de prevenção de doenças como o câncer de mama, entre outras, e deixa de lado a questão da saúde bucal preventiva. Sem falar sobre como é urgente a necessidade de se ampliar o acesso ao tratamento bucal preventivo e curativo, visando melhorias na saúde pública de forma sustentável (social e economicamente).

Segundo dados de 2020 do CFO (Conselho Federal de Odontologia), existem no Brasil 331.502 dentistas com CRO ativo até o momento. A média brasileira é de 634 habitantes por dentista e, ainda assim, o atendimento não chega à população da forma esperada. A solução dessa questão passa por investimentos em campanhas de prevenção, uma vez que investir em prevenção é muito mais barato que no tratamento dentário; pela capacitação dos profissionais da saúde bucal no atendimento de pessoas com baixa mobilidade; e pela democratização do acesso à saúde bucal por parte do poder público. Não basta encabeçarmos os rankings de qualidade tecnológica e quantidade de profissionais se esses números não são revertidos para o cuidado da nossa população. Saúde se traduz em produtividade e em riqueza para o nosso País e é preciso compreender que grande parte dessa saúde vem da boca.

*Fernando Versignassi é cirurgião-dentista especialista em saúde coletiva, presidente da Abeo (Associação Brasileira de Empresas de Odontologia) e sócio da clínica de odontologia inclusiva Tutti Odonto.

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