Manchas brancas ou avermelhadas, feridas que não cicatrizam depois de 15 dias, nódulos no pescoço. Em casos mais avançados, sangramento, dificuldade para engolir e falar. Esses são alguns dos sintomas do câncer de boca —também conhecido por câncer da cavidade oral ou bucal.

De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), é mais comum em homens acima dos 40 anos, sendo o 4º tumor mais frequente no sexo masculino na região Sudeste. O desafio, assim com outros tipos de câncer, é o diagnóstico rápido e assertivo.

“Quanto antes for feito o diagnóstico, maior será a chance de cura do paciente”, explica Letícia Lang, dentista oncológica da Oncoclínicas Londrina e do Centro de Oncologia e Radioterapia de Londrina, no Paraná.

O tumor pode acometer qualquer região que fica dentro da cavidade oral, ou seja, na boca. Também pode envolver a orofaringe, que é a junção da parte posterior da língua com a faringe —neste caso, há uma relação maior com a infecção por HPV, o papilomavírus humano. Mesmo assim, é mais comum as lesões aparecerem nas seguintes regiões: 

  • Borda lateral da língua;
  • Assoalho bucal (embaixo da língua);
  • Lábio inferior (dependendo do tipo de tumor, pode ser considerado câncer de pele);
  • Céu da boca;
  • Parte interna da bochecha.

Segundo Luciana Ramalho, dentista e consultora em estomatologia do Grupo Oncoclínicas na Bahia, o câncer não acontece de um dia para o outro, mas vai dando sinais que podem passar despercebidos e que são confundidos com outras feridas.

A afta, por exemplo, cura e cicatriza. “Na grande maioria das vezes, aparece como uma mancha branca ou vermelha ou como uma ferida que não cicatriza e também não dói. Se não cicatrizar em 15 dias, deve acender um alerta”, diz.

 

Isso porque, quanto mais tempo passa, mais os sintomas podem se agravar. “Essas manchas ou feridas vão se transformando. Em casos mais avançados, aparece o mau hálito, dificuldade de falar e engolir, além de caroços no pescoço”, pontua. Veja os sintomas:

  • Manchas brancas ou avermelhadas;
  • Feridas que não cicatrizam após 15 dias;
  • Nódulos ou crescimento da mucosa;
  • Nódulos no pescoço (às vezes, há apenas esse sintoma presente).

Os sinais em casos mais graves:

  • Dificuldade para mastigar, engolir e falar;
  • Sensação de que há algo preso na garganta;
  • Mau hálito;
  • Dificuldade para movimentar a língua;
  • Sangramentos.

Não esqueça da sua boca, faça um autoexame

A boca tem uma “vantagem” em relação a outras partes do corpo: nós conseguimos analisá-la sem muitas dificuldades, todo dia, principalmente quando fazemos a higiene. É exatamente por conta disso que devemos ficar de olho para possíveis mudanças, mas como? Existe um autoexame que pode ser feito rapidamente, segundo os especialistas.

“Abra bem a boca em frente ao espelho com a língua para fora. Olhe a parte direita e esquerda, veja se não há algum dos sintomas. Coloque dois dedos na parte interna da bochecha para avaliar a região. Também verifique o céu da boca e a parte de baixo da língua. Se tiver qualquer lesão, procure um especialista”, explica Leonardo Arcoverde, cirurgião oncológico da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica), coordenador de Cabeça e Pescoço do Hospital Esperança Recife e titular do Hospital do Câncer de Pernambuco.

Isso, é claro, não substitui a necessidade de uma consulta com um profissional de saúde. Não é obrigação do paciente fazer o diagnóstico, mas, sim, do médico ou do dentista. “O autoexame é uma triagem inicial. Se identificar algo diferente, ele deve, sim, procurar um dentista”, diz cirurgião-dentista de Londrina.

Mas caso ainda esteja na dúvida, confira essa imagem abaixo, elaborada pela dentista Letícia Lang. São essas regiões que você deve olhar com mais cuidado.

Tabaco, bebida alcoólica e HPV: o grupo de risco

Algumas pessoas podem ter mais risco de desenvolver o câncer na boca. Pacientes (mais homens) que fumam tabaco e/ou alcoólatras, principalmente, apresentam mais chance de ter os tumores na região da cavidade oral.

Considerando as regiões da boca, o câncer dos lábios é o terceiro tipo mais frequente, correspondendo de 25% a 30% de todos os tipos de câncer oral. Ele ocorre principalmente em homens de pele clara, acima de 50 anos de idade. A proteção labial, neste caso, é fundamental para quem passa o dia exposto ao sol.

Mas isso não quer dizer que indivíduos fora deste grupo também não possam desenvolver o câncer. Inclusive, pessoas mais jovens costumam ser diagnosticadas com associação à infecção por HPV, conforme explica Felipe D’Almeida Costa, médico patologista, diretor de Ensino da SBP (Sociedade Brasileira de Patologia) e titular da anatomia patológica do A.C.Camargo Cancer Center (SP).

 

“São pacientes mais jovens sem histórico de tabagismo e alcoolismo. Geralmente, a lesão primária na amígdala é pequena e escondida. Enquanto o gânglio do pescoço já chega aumentado”, diz o também coordenador médico de Educação da Patologia da Dasa.

“Já com os tumores não associados ao HPV, são pacientes dependentes de álcool e tabaco. São mais velhos e as lesões primárias são maiores do que as do pescoço”, conclui.

Importante ressaltar que, além da camisinha obrigatória em todas as relações sexuais, há ainda as vacinas contra HPV oferecidas gratuitamente para os meninos com idades entre 11 e 14 anos e para meninas de 9 a 14 anos. Para adultos, também indicada, é possível encontrá-la em clínicas particulares.

Outro ponto importante levantado pelos especialistas é que o câncer de boca tem um forte componente social envolvido, acometendo pessoas de renda baixa, sem acesso a dentistas e com pouco conhecimento da importância da higiene oral.

“Quando vamos para as regiões mais pobres do país, notamos que o risco de câncer de boca cresce muito, se comparado a regiões onde vivem pessoas com maior poder aquisitivo”, diz cirurgião oncológico da SBCO.

Existem formas de prevenir o câncer de boca, que envolvem os seguintes cuidados:

  • Não fumar;
  • Limitar o consumo de bebida alcoólica, beba socialmente;
  • Manter a boa higiene bucal;
  • Ter uma alimentação saudável;
  • Ir ao dentista regularmente;
  • Usar camisinha nas relações sexuais;
  • Vacinar-se contra HPV;
  • Se trabalhar exposto ao sol, usar chapéu de abas largas e protetor labial;
  • Procurar rapidamente atendimento médico caso apareça algum sintoma.

Desafio: o diagnóstico chega em estágios avançados

É uma doença de importante magnitude no Brasil, com variações regionais significativas, tanto na incidência quanto na mortalidade. Estima-se 11.180 casos novos da doença em homens e 4.010 em mulheres para cada ano entre 2020 e 2022. As regiões Sudeste e Sul apresentam as maiores taxas de incidência e de mortalidade da doença, segundo o Inca.

Infelizmente, os pacientes chegam com um diagnóstico avançado, principalmente se for da rede pública, o que reduz bastante as chances de cura. Esse, inclusive, é um dos principais desafios do câncer de boca: o diagnóstico precoce.

“O tratamento pode ser agressivo, então quanto antes detectado, menos problemas o paciente terá em relação ao tratamento. Serão cirurgias mais conservadoras e a qualidade de vida será maior”, explica Lang.

É o exame de biópsia que irá fechar (ou não) o diagnóstico. Entre os tipos mais comuns de câncer está o carcinoma de células escamosas, também denominado de carcinoma epidermoide, com 95% dos casos e, depois, o tumor nas glândulas salivares menores, representando 5% dos casos.

Há como tratar e curar o câncer de boca

O tratamento envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia —às vezes, uma combinação entre eles. Isso depende do estágio em que o câncer está e qual sua localização. Quem cuida desta parte é o cirurgião, mas os dentistas acompanham o paciente durante todo o tratamento.

Segundo Arcoverde, o “padrão ouro” de tratamento é a cirurgia de retirada do tumor quando há margens de segurança. “Por isso, recomendo a prevenção e o diagnóstico precoce. Assim, conseguimos tratar o tumor ainda ‘pequeno’, realizando cirurgias menos radicais e mais conservadoras”, afirma.

O rápido diagnóstico não só auxilia no tratamento, mas também na sobrevida. “Infelizmente, a maioria já chega aos profissionais em estágios mais avançados, com índice de sobrevida menor do que 50% em 5 anos. Isso é baixo em relação a outros tumores”, explica Ramalho.

Tenha uma boca saudável

Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Tenha Uma Boca Saudável, que tem como objetivo explicar como e por que é importante manter uma boa higiene oral. Também abordaremos erros comuns na escovação, câncer oral, como a saúde mental afeta os dentes, os limites dos procedimentos estéticos e corretivos, saúde bucal das crianças e de gestantes, entre outros assuntos.

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