Diversas mudanças têm sido observadas na sociedade durante este duro período de pandemia de Covid-19 e consequente distanciamento social forçado. Algumas mudanças tristes, mas algumas delas positivas e, espero, duradouras.
Uma questão que observo de perto é o aumento da procura por tratamentos odontológicos, principalmente pelo crescimento de mais de 1 milhão de pessoas atendidas pelos planos odontológicos em 2020, a despeito do encolhimento econômico vivido no período.
O que é possível observar é que as pessoas associam diretamente, e com razão, saúde bucal a qualidade de vida e bem-estar. Uma das mudanças notáveis ocasionadas ou acentuadas no período de pandemia tem sido, exatamente, a busca das pessoas por mais qualidade de vida, seja na mudança de um apartamento para uma casa ou da capital para o interior; seja em maneiras de se aproveitar mais momentos de prazer genuíno ou adquirir mais confortos dentro do lar. Tem muita gente repensando a forma como tem vivido até aqui.
Com 20 anos de experiência em consultório como dentista e mais alguns como executivo do mercado de odontologia, enxergo com clareza alguns aspectos bucais que impactam diretamente na qualidade de vida e felicidade das pessoas. O primeiro é a dificuldade de mastigação que, além de reduzir o prazer no ato da refeição, pode afetar momentos de interação social. Assim como o mau hálito que gera um isolamento social da pessoa, inflamações que incomodam muito, infecções ou qualquer outro problema na boca que gere desconforto – é muito ruim.
Nessas duas décadas de clínica, vivia socorrendo pessoas com dor de dente. As mais diversas causas, mas o desconforto, a angústia e a sensação de urgência, eram todas similares.
Cuidar da boca é investir em saúde, mas também em bem-estar e autoestima.
Esse movimento de se buscar tratamento odontológico é ótimo, não tenho dúvida. Como o Brasil possui um a cada cinco dentistas no mundo, parece fácil ter acesso a esses profissionais, mas não é verdade.
Mais da metade dos dentistas em atuação está na região Sudeste, o que gera um desequilíbrio na relação. Some-se a isso o fato de que o preço de um tratamento particular é algo que foge ao alcance de muitos brasileiros e, por outro lado, conseguir ser atendido pelo SUS é uma maratona.
Nesse cenário, o mutualismo existe como a terceira e mais balanceada opção – os planos odontológicos. No ano passado, os planos odontológicos investiram em procedimentos quase o triplo do que foi dispendido pelo SUS. Quando contratado pelas empresas, pode custar cerca de R$ 15,00 por mês por pessoa, enquanto alguns tratamentos particulares ultrapassam a barreira dos mil reais com certa facilidade.
Não à toa que esse mercado cresce consistentemente há 20 anos e projeta-se um incremento na casa dos 10% em 2021, um ano ainda difícil para a economia.
Espero que essa mudança cultural acelerada na pandemia seja permanente e permita que as pessoas passem a consultar seu dentista com mais frequência e não somente quando a dor se torna lancinante. A tecnologia avançou muito e trouxe mais conforto à temida cadeira odontológica, mas, mesmo que sejam momentos pouco agradáveis com a boca aberta, os benefícios que se colhem posteriormente são infinitamente superiores.