Muitos acontecimentos bons, com o passar do tempo, podem acabar associados a algo prejudicial sem que se perceba. Um exemplo disso é o hábito de fumar. Um homem que acabou de ser pai, ganha charutos; um casal após o sexo fuma lado a lado; no filme, o detetive charmoso, ao desvendar um caso, traga um cigarro pausadamente, sentado em sua poltrona, como se aquilo fosse sua recompensa; na rua um grupo de jovens acende e compartilha um cigarro simbolizando um momento de socialização.
São cenas recorrentes, são hábitos que adentraram o cotidiano e ainda que hoje o combate ao fumo seja maior, muitas pessoas não se atentam ao mal que o tabagismo pode causar, inclusive para a boca. Segundo Viviane Maria Cury Azevedo, especialista em periodontia e membro do Conselho Administrativo da Uniodonto de São Paulo, os danos causados pelo fumo à saúde bucal são diversos e os mais frequentes são dentes manchados, mau hálito, doença periodontal, olfato e paladar reduzidos e câncer bucal, sendo o último o quadro mais grave, podendo ocorrer nos lábios, mucosas, língua e palato.
“A ação do fumo, local e sistêmica, favorece a diminuição das defesas do organismo, o que pode refletir em uma gengiva aparentemente saudável, embora debaixo dela existam inflamação e uma consequente perda de osso ao redor dos dentes. As periodontites e gengivites são até quatro vezes mais comuns em fumantes e correspondem às manifestações de maior ocorrência na boca”, esclarece Rodrigo Guerreiro Bueno de Moraes, mestre em diagnóstico bucal pela Universidade Paulista e consultor científico da ABO – Associação Brasileira de Odontologia.
O hábito de fumar não causa, mas agrava a doença periodontal, pois interfere na capacidade de cicatrização, ao diminuir a vascularização, prejudicando uma resposta inflamatória, explica Azevedo. O fumante tem processos cicatriciais alterados que podem, inclusive, gerar insucesso nos implantes. Além disso, as toxinas expelidas provocam manchas nos dentes e nas restaurações.
Ainda que diversas campanhas sejam feitas para conscientizar as pessoas sobre os riscos do tabagismo, é também dever do cirurgião-dentista esclarecer aos seus pacientes sobre os danos deste hábito e também disponibilizar-se a auxiliá-los no apoio à interrupção do tabagismo. Segundo Azevedo, os fumantes devem ir ao dentista ao menos duas vezes por ano e é preciso estar atento às mudanças de coloração nos lábios ou outras partes da boca, além do aparecimento de ínguas, endurecimento de áreas de tecido mole, feridas que não cicatrizam e também dificuldade para falar, mastigar ou engolir.
A melhor forma de tratamento aos danos causados pelo tabagismo, ainda é o abandono do hábito, e vale lembrar que os charutos e cachimbos não são menos prejudiciais, como costuma acreditar-se. Conforme o Inca, o tabaco usado na produção dos cigarros é ácido, logo o fumante precisa tragar a nicotina para que esta seja absorvida pelos pulmões, já o tipo de fumo usado para cachimbos e charutos é alcalino, permitindo assim que a nicotina seja absorvida pela mucosa da boca. Ambos são prejudiciais, pois a composição é semelhante.
Embora atualmente haja diversas campanhas de conscientização e controle do tabagismo, a responsabilidade também cabe aos profissionais da saúde e à melhoria da educação, pois é importante que, gradativamente, este hábito seja entendido como algo extremamente danoso à saúde de forma ampla.