Por muitos anos a responsabilidade pelas próteses dentárias de um consultório era de responsabilidade do próprio dentista. Quando não, estes repassavam a tarefa para outros profissionais de sua confiança, sem que houvesse qualquer tipo de preocupação com qualidade ou formação de quem executasse o serviço. Entretanto, durante o governo de Getúlio Vargas, foi providenciado um decreto-lei referente à prática odontológica que citava a profissão do protético.
Diante disso, diversos consultórios passaram a ter fiscalização constante e foi percebido que muitos produziam as próteses em “salinhas” anexas aos consultórios sem nenhum tipo de estrutura ou profissional qualificado. A inspeção, que na época era realizada pelo serviço de fiscalização de medicina e controlava atividades farmacêuticas, médicas e odontológicas, foi na verdade o início do fim das práticas irregulares dessas atividades.
Mas a regularização mesmo só chegaria aos anos 1970 com a regulamentação da profissão pela Lei nº 6.710, de 5 de novembro de 1979, atendendo às exigências específicas de trabalho, desde que direcionadas aos cirurgiões-dentistas, sendo vedado ao técnico prestar qualquer serviço diretamente ao paciente. Desde esse momento os profissionais passaram a ser conhecidos como técnicos em prótese dentária (TPD). “A definição protético não se aplica ao profissional, pois se refere àqueles que realizam as atividades da profissão sem habilitação e, portanto, de forma irregular”, esclarece Gizeli Gonçalves Acorci, professora do Curso de Técnico em Prótese Dentária do Senac -SP.
O profissional com título de TPD é aquele que confecciona as próteses, sejam elas removíveis ou fixas, implantes, moldes para tratamento diversos, aparelhos ortodônticos e facetas de porcelana, entre outros. Ele pode atuar de forma autônoma ou em laboratório por contratação, auxiliando nas solicitações dos dentistas, mas nunca diretamente com o paciente. Seu objetivo maior é propiciar a reabilitação bucal em todas as suas funções, seja estética, fonética ou da mastigação. Para trabalhar com próteses dentárias, é necessário ter formação técnica específica e registro no Conselho Regional de Odontologia.
“É necessário o curso profissionalizante de técnico em prótese dentária, reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação”, conta Agostinho Fernandes dos Santos Filho, presidente do Sindicato dos Protéticos Dentários do Estado do Rio de Janeiro e técnico em prótese dentária. “Um requisito importante também é ter o ensino médio completo e todo o curso deve ter no mínimo 1.200 horas-aula”, completa Fernandes.
Mas não pense que basta apenas querer, é preciso ter outros atributos indispensáveis a esta profissão que vai muito além do curso de formação. “É necessário ter habilidade manual, paciência, capacidade de observação, disciplina, dedicação, boa visão, organização, higiene pessoal e adequação do ambiente de trabalho”, lista Gizeli.
Para completar, a professora do Senac diz ainda que a pro-atividade e a sociabilidade ajudam muito na profissão, pois a pessoa que seguir esse caminho deve estar sempre em busca de novos conhecimentos e aprimoramento profissional. Com tantas mudanças no cenário profissional desde sua regulamentação, os profissionais passaram a buscar mais qualificações e formação adequada, aumentando o número de técnicos no mercado e a carreira ganhou cada vez mais força e concorrência, o que não significa que exista uma saturação.
Pelo contrário, com o desenvolvimento de novas tecnologias e materiais dentários e da incontestável busca pela estética bucal, percebe-se muito mais a necessidade de novíssimas técnicas e métodos, o que gera uma grande demanda de profissionais no setor. “São aproximadamente 254 mil cirurgiões-dentistas para 20 mil técnicos em próteses dentárias em todo o País, o que quer dizer que cada técnico teria 127 cirurgiões-dentistas demandando trabalhos aos seus laboratórios. Um número muito grande para um só profissional dar conta. Só isso já justifica que no mercado ainda há espaço para muitos técnicos em prótese”, explica Agostinho.
A necessidade de mais profissionais não para por aí. Segundo Gizeli Acorci, a ausência de dentes é um dos graves problemas de saúde bucal no Brasil, pois muitas pessoas ainda preferem extrair os dentes a tratá-los. “De acordo com pesquisas e levantamentos epidemiológicos, estima-se que oito milhões de pessoas precisam de prótese dentária no País. Associado a isso e de acordo com o IBGE, temos uma previsão do aumento da população brasileira com mais de 60 anos até 2030, o que mostra que o número de pacientes que necessitarão de reconstrução protética tende a aumentar”, completa.
Foi focando nessa necessidade, cada vez mais presente no mercado odontológico, que Leonardo de Vares Rossetti decidiu fazer o curso do Senac e se formou em técnico em prótese dentária, sendo atualmente o responsável técnico do setor ceramista.
“Escolhi a profissão porque nela temos a capacidade de realizar reabilitações orais em pessoas que necessitam deste tipo de trabalho. Sempre digo que ver o paciente sorrindo com sua autoestima recuperada não há preço que pague”, conta Rossetti, que se formou há três anos e antes pensava em ser dentista, mas se encantou pela profissão de técnico em prótese dentária.
Aliás, dentistas e TPDs são profissionais que precisam de um grande entrosamento, pois juntos desenvolvem o trabalho que devolverá o sorriso ao paciente. Por isso, a relação desses profissionais deve ser a mais técnica possível, com constante troca de informações, tanto clínica quanto tecnológica para que se obtenha um resultado perfeito.
A parceria e a colaboração mútua é que resultará em um trabalho satisfatório. Tanta dedicação rendeu a esses profissionais um apelido muito original, eles são considerados artistas bucais. “Devolvemos o sorriso ao ser humano, por isso somos considerados artistas bucais, trabalhamos com a reconstrução e a restauração do sorriso”, revela Agostinho. Mas a professora Gizeli vai além, o técnico de prótese dentária utiliza tanto seus conhecimentos técnicos como suas habilidades criativas.
Uma desenvoltura motora e sensorial que resulta em obras de artes exclusivas, se considerar que cada prótese é única. Com um mercado extremamente promissor e muito atraente, os laboratórios de próteses dentárias ainda são pouco difundidos, mas vêm se consolidando no campo de saúde bucal. Uma profissão, que antes era predominantemente masculina, hoje conta com muitas mulheres colocando a mão na massa.
“Há alguns anos havia a predominância dos homens no mercado de trabalho como próteses, mas, atualmente, este quadro se inverteu e a maioria é de mulheres em busca de formação nesta área”, conta Gizeli.
A média salarial de um estudante do curso de TPD como estagiário pode chegar a R$ 600,00 por mês, dobrando após a conclusão do curso, já que muitos terminam os estudos contratados por laboratórios. Em alguns estados, como no Rio de Janeiro, existe uma tabela de piso salarial que assegura um valor mínimo a ser pago de R$ 1.079,83 para técnicos e R$ 810,32 para auxiliares. Esses valores salariais ainda podem variar, pois alguns empregadores podem pagar de acordo com a produção ou características dos produtos e comissão. “A média salarial varia muito, pois depende da qualidade dos trabalhos realizados e da produtividade do profissional. Na maioria dos casos em que o profissional trabalha como empregado de laboratório é estipulado um salário fixo e mais comissão de 20% a 35% sobre o que produz”, revela Gizeli.
Independentemente da área de atuação, o profissional técnico em prótese dentária deve estar sempre atualizado e atento às novas tecnologias do setor. Para os que vão se aventurar em um negócio próprio, é necessário ter conhecimento da legislação de sua cidade, pois a legalização desses estabelecimentos é parte essencial para garantir maiores lucros, segurança e clientes cativos.