Qualquer pessoa, independentemente de idade ou sexo, pode sofrer um  traumatismo que resulte no comprometimento do maxilar, dentes e face, seja por conta de acidentes de carro, de moto, no trabalho,  na  prática  de  esportes  ou até em casos de violência.

“O traumatismo bucomaxilofacial (TBMF) se caracteriza por lesões de diferentes tipos e graus de acometimentos que envolvem a região bucal e facial. Sendo assim, podemos citar exemplos desde pequenas contusões ou lacerações até extensas fraturas dos ossos da face”, explica Roger Lanes, doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela PUC-RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e consultor científico da ABO  –  Associação  Brasileira  de Odontologia.

De  acordo  com  Lanes,  o  TBMF pode causar alterações funcionais que impossibilitam o indivíduo de exercer funções normais como a dificuldade ou  impossibilidade  de  abertura  de boca; problemas de deglutição e mastigação; obstruções nasais; alterações na visão, dificuldades na movimentação ocular e até cegueira, caso os ossos da cavidade que abriga o olho sejam prejudicados. Além disso, podem ocorrer alterações estéticas, que são relacionadas às cicatrizes, perdas teciduais ou até mesmo às mudanças da anatomia da face devidas à fratura dos ossos e, caso o tratamento não seja correto, o indivíduo pode sofrer infecções localizadas e/ou generalizadas, aumentando sua gravidade.

Segundo  Antonio  Sangiuliano, cirurgião-dentista,  especialista  em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, professor responsável pelo módulo de Clínica Integrada Cirúrgica I do curso de Odontologia da Faculdade da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, o TBMF é mais comum em adultos com idade entre 18 e 30 anos;  entretanto,  a  ocorrência  nos idosos  vem  aumentando,  pois  essa população tem adotado um estilo de vida  mais  ativo  em  comparação  às gerações passadas, mas não possuem agilidade de reflexos e força muscular necessárias  para  se  protegerem  de uma queda.

Lanes esclarece  que  os  adultos jovens ainda são os mais acometidos pelo TBMF, pois estão na categoria de idade que exerce variados procedimentos ou condutas de risco, como dirigir,  pilotar  motocicletas,  realizar atividades esportivas com frequência e até mesmo envolvimento em situações de violência, como brigas que resultam em agressão física. Contudo, ele  cita  também  as  crianças  como uma parcela significativa, já que estas estão aprendendo a caminhar, ou em fase escolar, podendo sempre cair da própria altura ou de brinquedos, machucando a boca e os dentes.

Quando ocorre o traumatismo, é necessário identificar qual a gravidade da situação. Para isso, segundo Sangiuliano, é preciso avaliar o histórico do acidente, identificar se houve perda de consciência ou ingestão de algum tipo  de  droga  depressora  do  SNC (Sistema Nervoso Central) e, caso uma reanimação seja necessária, deve-se desobstruir as vias aéreas superiores.

Feito isso, é realizada uma avaliação secundária, detalhando a  história do  traumatismo,  com  a  solicitação de  exames  específicos,  como  os  de imagens  e  laboratoriais,  para  assim definir qual o tratamento correto para o paciente.

“Traumatismos dentários  são muito  comuns  e  variam  de  acordo com  o  grau  de  envolvimento  dos dentes e dos tecidos de suporte deles (gengiva,  osso  alveolar).  Caso  haja fratura  do  dente,  deve-se  procurar um dentista o mais rápido possível, levando junto o fragmento dentário.

Em situações  de  avulsão  dentária (remoção completa), o dente deve ser colocado em um recipiente com água limpa ou leite e o paciente deve ser encaminhado a um cirurgião-dentista especializado ou um serviço hospitalar que possua o atendimento de cirurgia bucomaxilofacial. Isso deve ser feito imediatamente, pois a  possibilidade de sucesso da reimplantação dentária está diretamente relacionada ao tempo que o dente fica fora do seu local de origem”, alerta Lanes.

O TBMF é tratado pelo cirurgião dentista especialista  em  Cirurgia  e Traumatologia  Bucomaxilofacial, entretanto  cabe  ressaltar  que  um paciente que tenha sofrido qualquer traumatismo mais grave, incluindo o facial, deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar.

Como se prevenir do TBMF

De certa forma, em virtude da abrangência das lesões causadas pelos traumatismos bucomaxilofaciais, é difícil definir medidas estáticas de prevenção.

Lanes cita exemplos de como adequar o cuidado conforme cada indivíduo:

  • crianças: evitar deixar objetos próximos que possam causar lesões (facas, objetos pontiagudos, fios elétricos desencapados, líquidos ou objetos quentes etc);
  • esportistas: utilizar protetores dentários, além de equipamentos de proteção para a face, caso a modalidade esportiva exija isso;
  • motoristas: devem usar o cinto de segurança, e motociclistas precisam utilizar capacete do tipo que encobre todo o rosto;
  • idosos: adequar o ambiente às condições necessárias para o idoso, evitando, principalmente, possíveis quedas.