A saúde bucal é um dos principais quesitos para o bem-estar geral dos indivíduos, e sua manutenção tem sido um grande desafio, principalmente para aqueles que, por problemas decorrentes de doenças congênitas ou crônicas, encontram dificuldade em receber um tratamento adequado.  Pacientes portadores de necessidades especiais (PPNE), diabéticos, cardíacos, hipertensos e soropositivos compõem uma parcela significativa de pessoas que precisam de um atendimento diferenciado por parte dos profissionais da saúde, inclusive  os  cirurgiões-dentistas.

Para a secretária-geral da ABCD – Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas  –,  professora  especialista nesta  área,  Maria  Lucia  Zarvos  Varellis,  a  pessoa  com  necessidades especiais tem o direito à saúde, como diz a Constituição Federal. “Não há procedimentos diferentes para estes pacientes, o que existe é uma necessidade de abordagem  e  adequação diferenciadas, de acordo com as exigências de cada indivíduo para que se possa promover a saúde de forma integral e segura”, enfatiza.

Mesmo que um paciente tenha frequentado durante toda a sua vida um consultório odontológico e num certo momento desenvolva diabetes ou  sofra  um  acidente  de  carro  que o leve à tetraplegia, não deveria ser necessária a troca de profissional. O mesmo cirurgião-dentista deveria estar apto a continuar o tratamento, acompanhando aquele indivíduo.

Infelizmente, com as sucessivas modificações de conteúdo programático que as universidades implantaram em seus cursos, a disciplina aplicada a esta especialidade foi suprimida de grande parte delas. Além disso, a demanda criada levou à formação de mais cursos de atualização e especialização sobre o tema, visando suprir esta lacuna da graduação.

“Muito embora o dentista tenha conhecimento teórico e habilidade técnica  para  exercer  a  profissão,  o atendimento  a  PPNE  requer  uma atenção  diferenciada,  assim  como qualquer outra especialidade da área da saúde. Quanto mais preparado estiver o profissional, melhor será a sua atenção a este grupo de pacientes”, explica o odontopediatra e supervisor de  reabilitação  em  odontologia  na AACD  –  Associação  de  Assistência à  Criança  Deficiente,  Marcelo  Furia Cesar. Segundo ele, “não existe uma ‘receita de bolo’ para o atendimento de PPNE. Além dos conhecimentos científicos e técnicos adquiridos por meio de formação diferenciada,  a experiência profissional, aliada a uma sensibilidade e percepção das limitações e dos potenciais destes pacientes,  parece  consistir  na  forma  mais adequada de lidar com este grupo”.

Em PPNE se observa um  alto índice de cárie e doença periodontal em  virtude  de  algumas  limitações físicas que impedem o autocuidado (higiene  oral),  além  de  problemas relacionados à oclusão (encaixe dos dentes).  Já  nos  portadores  de  doenças  infectocontagiosas  há  muitas manifestações bucais como a candidíase;  e  em  pacientes  com  doenças sistêmicas crônicas, como diabéticos e hipertensos, aumenta a incidência de doença gengival, cáries radiculares e xerostomia (secura da boca).

A  presença  de  um  familiar  ou cuidador durante as consultas é primordial para que o paciente se sinta confortável, além de autorizar toda e qualquer interferência necessária na boca do paciente. Tanto Maria Lucia quanto Marcelo Cesar apontam as barreiras arquitetônicas e a falta de acessibilidade como os fatores impeditivos ao acesso de PPNE aos locais onde os tratamentos são realizados, já que o melhor local para isto continua sendo o consultório odontológico, pois é neste ambiente que  o  cirurgião-dentista  tem  todos os recursos necessários para trabalhar com segurança, biossegurança e de modo integral.