A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou durante o 25º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (Ciosp), em 2007, uma pesquisa com profissionais da área de odontologia para estabelecer um estudo sobre a prevenção e o controle de riscos nos serviços odontológicos. Esse material, divulgado recentemente, aponta para alguns procedimentos capazes de contribuir para a incidência de riscos no consultório do dentista.

Na pesquisa, por exemplo, 53,7% dos cirurgiões-dentistas entrevistados que utilizam solução de glutaraldeído para esterilização de artigos odontológicos declararam não respeitar o tempo mínimo necessário (10 horas) ao processo. E, desse percentual, 33,7% o fazem por apenas 10 minutos. Ainda nesse quesito, 38% dos odontólogos utilizam o calor seco (estufa) para a esterilização de instrumentos em geral.

O uso da estufa, cuja ação básica é a oxidação dos microorganismos, não é confiável e apresenta riscos, pois o processo exige muito tempo e altas temperaturas (160ºC ou 170ºC), além dos equipamentos não serem automatizados, permitindo falhas nos registros dos parâmetros físicos e a sua interrupção ao abrir a porta antes de concluída a esterilização. Atualmente, a melhor maneira de eliminar microorganismos do instrumental é utilizar a autoclave, que emprega o vapor de água saturado sob pressão, esterilizando os materiais na temperatura de 121ºC por período de 15 a 30 minutos.

Todas as medidas que são tomadas para evitar ou diminuir a probabilidade de infecção ou contaminação entre as pessoas envolvidas em um procedimento na área de saúde, assim como a infecção ou contaminação do ambiente ou do material que está sendo utilizado, recebem a definição de biossegurança, a segurança em relação à vida.

Desde a Antigüidade há registros de utilização de métodos rústicos de esterilização ou de proteção de fontes de infecção, como a fervura da água ou a preservação de alimentos pela salinização, secagem ou aquecimento. A biossegurança envolve as prevenções da transmissão de doenças e infecções, da contaminação ou crescimento de microorganismos nocivos e da deterioração e dano de materiais por microorganismos.

Para a doutora em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial e consultora em biossegurança da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Renata Pittella Cançado, “a biossegurança no ambiente de trabalho do odontólogo compreende, inicialmente, a identificação de potenciais riscos dentro do consultório, sejam eles relacionados a equipamentos, pacientes ou profissionais”.

Um bom protocolo de biossegurança inicia-se com uma boa anamnese e o exame físico do paciente, estendendo-se a todos os procedimentos que envolvam equipamentos e superfícies fixas, como limpeza do chão, cadeiras, paredes, instrumentos, incluindo sua lavagem, secagem e esterilização, além da constituição de barreiras por meio do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, óculos, avental impermeável, máscara e assim por diante, completa a consultora da ABO.

O uso de EPIs evita que gotas de sangue e saliva formadas durante o tratamento dentário contaminem o cirurgião-dentista e os demais membros da equipe. O uso do avental é muito importante, pois as roupas ficam contaminadas após os atendimentos. Também existe a possibilidade de microorganismos virem a se instalar no consultório, provenientes das roupas utilizadas fora desse ambiente. Recomenda-se a troca diária dos aventais e o descarte imediato das luvas e máscaras utilizadas. Gorros descartáveis e óculos de proteção também são equipamentos indispensáveis no atendimento odontológico, já que várias pesquisas demonstraram contaminação dos cabelos dos dentistas e auxiliares, além da infiltração de microorganismos no globo ocular provenientes do uso de equipamentos de alta rotação para remoção de tecido dentário, restaurações e amálgamas.

“Dentro de um consultório dentário que não siga os protocolos de biossegurança, tanto o paciente quanto o profissional e sua equipe de trabalho ficam expostos a doenças, tais como hepatite, tuberculose, HIV, sífilis, herpes, influenza e sarampo, entre outras”, adverte a Dra. Renata Pittella. Ela explica, ainda, que “o mais comum é, com certeza, um erro nos procedimentos de limpeza, esterilização e armazenagem de instrumentais, mas qualquer omissão dentro de um protocolo de biossegurança pode levar a uma contaminação”.

Segundo o Ministério da Saúde, os dentistas pertencem ao grupo de risco para a hepatite B, com incidência de pelo menos três vezes em relação à população em geral. Outras doenças também representam risco ao profissional e devem sempre ser comunicadas pelo paciente durante a consulta inicial, já que muitas delas não apresentam sintomas aparentes.

Infelizmente, existem consultórios que não cumprem alguns dos protocolos de biossegurança aqui citados. A vigilância sanitária estadual é a responsável pela fiscalização desses ambientes odontológicos. A vistoria agendada acontece anualmente, mas podem ocorrer visitas feitas por fiscais sem aviso prévio. Por isso, é importante que a população fiscalize os ambientes de saúde e denuncie a ausência do cumprimento dos protocolos que vão garantir um atendimento livre de infecções e outros transtornos, seja para o paciente como para a equipe do consultório.

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