Numa transação fechada num fim de semana, a Hapvida adquiriu o Grupo São Francisco por R$ 5 bilhões e tornou-se a maior operadora em número de usuários, com 5,8 milhões de clientes de convênios médicos e dental e uma receita líquida combinada de R$ 6 bilhões. Trata-se da segunda maior transação do setor de saúde no país, atrás apenas da compra da Amil pela americana UnitedHealthGroup em 2012, por quase R$ 10 bilhões.

Forte no interior de São Paulo e no Centro-Oeste do país, o grupo São Francisco também era disputado pela NotreDame Intermédica e pela Amil. Segundo fontes a par das conversas, a primeira ofereceu R$ 5,1 bilhões pela operadora de planos de saúde e a segunda, um pouco abaixo desse valor. O vice-presidente da UniteHealth, Devin Whitney, chegou a vir ao Brasil pedir um prazo maior a fim de oferecer uma nova proposta. No entanto, a Hapvida teve a seu favor o “risco Cade”, uma vez que as duas rivais atuam em São Paulo, a principal praça da São Francisco. Fundada em Fortaleza, a Hapvida é líder no Nordeste e Norte e não tem presença no mercado paulista.

Apesar de ter acabado de assinar um cheque gordo, a Hapvida continua analisando outros ativos. “Ainda há espaço para aquisições e podemos anunciar uma ainda neste ano”, disse Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida. Após o pagamento da São Francisco, a companhia ainda terá em caixa R$ 500 milhões, segundo Bruno Cals, diretor de relações com investidores da Hapvida.

Dos R$ 5 bilhões da transação, R$ 4,75 bilhões serão quitados em dinheiro e a diferença será em ações da Hapvida para os fundadores, que passam a deter 1,2% da companhia de Fortaleza. Atualmente, a Hapvida tem disponível R$ 3 bilhões e os outros R$ 2 bilhões virão de uma emissão de debêntures.

O múltiplo da transação (incluindo as sinergias) foi equivalente a nove vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da São Francisco que deve encerrar o ano com um Ebitda de R$ 300 milhões. A estimativa é a que a aquisição gere sinergias de R$ 170 milhões, por ano, até 2023.

Pinheiro apontou a capacidade de gestão de rede credenciada da São Francisco como uma das razões para a aquisição. Na Hapvida, 95% das internações são feitas em hospitais próprios. Na operadora adquirida, esse percentual é de 65%. “Vamos manter a rede credenciada, queremos aprender e trabalhar com os prestadores”, disse Cândido Pinheiro Junior, vice-presidente comercial e de relacionamento da Hapvida. A taxa de sinistralidade combinada será de 62%, dois pontos percentuais acima do indicador da Hapvida.

Apesar das cifras elevadas, o mercado considerou a transação positiva. Havia uma cobrança dos investidores para que a Hapvida adquirisse mais ativos como tem feito a Intermédica, que abriu o capital com poucos dias de diferença. Ontem, as ações da Hapvida fecharam o pregão em alta de 9% cotadas a R$ 33,40. “Seria muito difícil entrar no Estado de São Paulo sem pagar um preço alto. Estrategicamente faz muito sentido porque ambas têm uma rede verticalizada e a Hapvida passa a deter 3,5% do market share”, disse Thiago Macruz, analista do Itaú BBA. “Seria muito difícil crescer de forma orgânica em São Paulo e a marca São Francisco tem forte reconhecimento”, complementou Mariana Ferraz, analista da Eleven.

Os analistas destacam que o grande desafio para a Hapvida será administrar uma aquisição numa praça distinta e com parte do atendimento feito por uma rede credenciada. “A Hapvida é o melhor ‘case’ de crescimento orgânico, mas agora eles vão enfrentar outros desafios, além disso é a primeira grande aquisição deles. O fato de o presidente da São Francisco [Lício Cintra] permanecer no negócio ajuda muito”, disse Macruz. Esse é o principal argumento dos executivos da Hapvida ao serem questionados sobre os desafios de administrar a São Francisco.

A São Francisco foi assessorada pela Goldman Sachs e a Hapvida pelo BTG Pactual e Riza Capital.

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