Embora apresente custos mais baixos e preços mais acessíveis que o segmento de assistência médico-hospitalar, o mercado de planos exclusivamente odontológicos sofreu impacto significativo com a chegada da pandemia. Até março, os planos odontológicos vinham apresentando um crescimento anual contínuo. Em 2018, por exemplo, o segmento ultrapassou a marca de 24,3 milhões de vidas, com aumento de 6 milhões de beneficiários em seis anos. Em 2019 já eram 25,7 milhões de beneficiários, com as receitas obtidas pelas operadoras brasileiras com as chamadas contraprestações (mensalidades) atingindo R$ 207,3 bilhões.

A partir do segundo trimestre deste ano veio o baque. Segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), os planos privados exclusivamente odontológicos somavam, em junho, 25,2 milhões de beneficiários – 531 mil usuários a menos que em dezembro do ano passado.

“Com a pandemia e a recessão, o ano de 2020 será naturalmente desafiador”, avalia Rodrigo Barcellar, presidente da OdontoPrev, uma das maiores operadoras de saúde do Brasil, associada ao Bradesco. A empresa atua com uma rede cirurgiões-dentistas especializada, com cerca de 29 mil credenciados, e um portfólio com mais de 7 milhões de clientes.

No primeiro trimestre, a operadora chegou a ter um aumento de 64 mil beneficiários. “Com a pandemia, divulgamos os resultados do segundo trimestre com perda líquida de 274 mil vidas, em relação aos 7,4 milhões de beneficiários que contávamos em março, ou seja, uma queda de 3,7%”, conta ele.

A capacidade da operadora de enfrentar situações críticas e a qualidade da carteira corporativa, segundo o executivo, conseguiram mitigar os efeitos da turbulência no mercado, e a variação negativa das operações foi de apenas 2,8%. “O percentual de brasileiros com plano odontológico ainda é muito baixo, ao redor de 12% e temos razões para acreditar em retomada do crescimento”, diz.

Em 2019, a receita operacional líquida da OdontoPrev totalizou quase R$ 1,8 bilhão, 13% acima do ano anterior. A receita incremental foi de R$ 201 milhões em 2019, 36% superior a 2018. “Agora, no primeiro semestre, mantivemos a receita estável em relação a 2019, com lucro de R$ 283 milhões, um crescimento de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. Não apenas o custo de serviços durante a pandemia tem sido menor, mas também obtivemos ganhos de eficiência administrativa e menores despesas de comercialização”, afirma.

Controlada pela MetLife, um dos maiores grupos de serviços financeiros do mundo, a MetLife Brasil, hoje com mais de 38 mil clínicas de atendimento credenciadas e aproximadamente um milhão de beneficiários, também confia que o mercado dos planos odontológicos seja resiliente. “Não perdemos usuários mesmo diante desse momento de incertezas e cortes de orçamento das famílias”, conta Paula Toguchi, superintendente de produtos da MetLife.

Segundo Paula, para manter o atendimento e a carteira de clientes a operadora optou por congelar os reajustes das pequenas e médias empresas e dos planos individuais. “Para os planos de grandes corporações, estamos alinhando caso a caso juntamente com os clientes, mas com o mesmo objetivo de protegê-los neste atual cenário.” Para a maioria das operadoras, o maior desafio é a retenção de clientes, diante do cenário econômico desfavorável. “O retorno gradual da economia já traz alguns resultados preliminares de recuperação, mas ainda aquém da realidade normal”, destaca José Carlos Magalhães, presidente do UnitedHealth Group Brasil, controlador da Amil Dental, atualmente com 2 milhões de clientes.

“Até o momento, nossa receita, considerando os produtos médicos e odontológicos, está estável em relação ao início do ano. A perspectiva é manter os clientes e ampliar o acesso à saúde, entregando para o mercado soluções que atendem às novas necessidades”, destaca.

Segundo Irlau Machado Filho, presidente do Grupo NotreDame Intermédica, as operações no setor de planos odontológicos têm se mantido em crescimento. Nos primeiros seis meses, o número de beneficiários dos planos odontológicos passou de 2,015 milhões para 2,564 milhões, com alta de 2% no tíquete líquido médio mensal.

A empresa mantém também sua estratégia de crescer por meio de novas aquisições. Em julho de 2019, concluiu a aquisição da Belo Dente, adicionando 358 mil beneficiários à carteira de odontologia. As aquisições da Clínica Paranaense de Assistência Médica (Clinipam), por R$ 2,6 bilhões, da São Lucas Saúde, que atua na cidade de Americana (SP), por R$ 312 milhões, e da École Serviços Médicos, transação que custou R$ 49 milhões, concluídas no início do ano, vão possibilitar, segundo Machado Filho, ampliar as possibilidades de crescimento da carteira dental.

No Sistema Hapvida, informa Bruno Cals, diretor financeiro, o número de beneficiários de planos odontológicos também melhorou sob impulso de aquisições recentes. Por exemplo, o Grupo São José, um dos principais players de saúde suplementar de São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP). E da abertura de operações, em Brasília, Rio Grande do Norte e Bahia.

Do ponto de vista orgânico, houve redução de 14 mil beneficiários em planos individuais, mas a operadora registrou um crescimento de 149 mil beneficiários em planos coletivos. “É um mercado com enorme potencial de crescimento, ainda pouco penetrado, que traz benefício importante e tem baixo custo”, diz Cals.

Para a SulAmérica o impacto da pandemia sobre os planos odontológicos não foi muito acentuado. A carteira de clientes deste segmento não apresentou variação negativa significativa, segundo Raquel Giglio, vice-presidente de saúde e odonto. “Nos resultados do segundo trimestre, mostramos um aumento do número de beneficiários, incluindo saúde e odonto, de 8,1%, em relação a junho de 2019, demonstrando a resiliência do portfólio da companhia mesmo no cenário adverso.”

No segmento de odonto, o aumento foi de 16,1%, comparado ao mesmo período de 2019, impulsionado, segundo Raquel, pela compra da Prodent Assistência Odontológica, uma das dez maiores operadoras do mercado, em 2019, numa transação de R$ 146 milhões.

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