A janelinha mais bonita da mamãe! Perder um dente de leite pode ser tão emocionante quanto preocupante, quando o fato ocorre antes do tempo, passando a requerer uma atenção maior e até mesmo o acompanhamento de um odontopediatra.
O processo de desenvolvimento das dentições decíduas (dentes de leite) e dos permanentes é dinâmico e envolve diversos fatores – hereditário, sistêmico, locais e ambientais. Ao todo, na infância, totalizam-se 20 dentes, que serão substituídos um a um, pois, embora os dentes decíduos parem de crescer, os ossos da boca que os sustentam continuam em desenvolvimento. A maioria das crianças perde os primeiros dentes de leite em torno dos 6 anos de idade e o último por volta dos 12 anos.
“O período de troca é longo, acompanhando o crescimento da criança como um todo”, explica a especialista em Odontopediatria Dóris Rocha Ruiz. Ela acrescenta que a antecipação ou atraso de alguns meses em relação à média das crianças é considerada normal. Entretanto, há casos em que, se o desvio de tempo for muito grande, será necessária a análise de um odontopediatra. O profissional examina caso a caso, realiza exames clínicos e de imagem, inclusive com perguntas à família.
De acordo com a literatura científica, existe uma sequência ideal para o surgimento dos dentes permanentes, o que favorece o encaixe nas arcadas. Seguindo a regra geral, os dentes vão surgindo em grupos. Nascemos incisivos, caninos, pré-molares e molares. A troca ocorre primeiro com os dentes inferiores e, posteriormente, os superiores. Em ambas as arcadas, os dentes vão aparecendo aos pares, sempre um no lado esquerdo do outro.
“Deve-se lembrar que, próximo a esta primeira troca dos dentes de leite da frente, haverá o surgimento de quatro dentes no fundo, sem trocas, atrás dos molares de leite, os chamados primeiros molares permanentes”, explica Dóris Ruiz, que também é diretora de orientação aos pais e crianças da Associação Brasileira de Odontopediatria.
Mas alguns casos acabam saindo do lugar comum, deixando muitos pais surpreendidos e preocupados. “Eu tenho dois filhos e ambos perderam os dentes precocemente, mas de maneira natural. Assim que aconteceu, levei-os ao dentista para saber se estava tudo bem”, conta a administradora Christiene Sinclay, hoje com seus filhos de 11 e 14 anos. Para Renata Martins, odontopediatra responsável pela Clínica Odontoclinic, a perda natural dos dentes de leite está realmente acontecendo mais cedo, o que não significa que esteja acontecendo algo errado. “A nossa relação com o tempo e os ritmos da natureza é bastante diferente do que há algum tempo. As crianças estão desenvolvendo-se cada vez mais rápido e é natural que a troca da dentição acompanhe esse desenvolvimento”, explica.
De todo modo, não há nenhuma evidência que atribua a perda dos dentes de leite ao amadurecimento precoce das crianças. Segundo Dóris Ruiz, alguns fatores podem ser considerados nesse caso, como a presença de patologias ou traumatismo oral. Este último caso implicaria uma troca de dente mais cedo ou mais tarde, ainda assim de forma natural, já que os dentes permanentes sucessores ainda abaixo da gengiva estão em um estágio de desenvolvimento e no momento certo deverão aparecer.
O fato é que toda cronologia de erupção da dentição é de caráter individual e fortemente relacionada a fatores hereditários. Também não se pode esquecer da influência de alterações sistêmicas, locais e ambientais. Mais que preocupação quanto à época em que os dentes cairão, é preciso que se tenha prevenção, para que os dentes de leite não sejam perdidos por decorrência de doenças bucais, como a cárie dentária e a doença periodontal. Os cuidados e a prevenção na infância são de extrema importância, já que os dentes decíduos são responsáveis por manterem os espaços para os permanentes e suas raízes, como guia para o posicionamento correto dos dentes sucessores que se formam abaixo.
Conforme Dóris Ruiz, na perda dos dentes precoce a maior preocupação dos pais é de certa forma emocional, já que a troca de dentes revela que os filhos estão crescendo. Os pais ficam receosos quanto à preparação das crianças para a próxima fase e até mesmo quanto aos cuidados com os dentes permanentes. “De fato é uma situação bem complicada e eu tentei fazer o máximo para que eles aproveitassem esta época da vida. No entanto, vejo que eles são bem mais maduros do que eu era com a idade deles”, revela Sinclay.
Já quando a perda ocorre por problemas oriundos de patologias ou traumatismo oral, as questões vão além do emocional, pois existe a preocupação maior que são os dentes no futuro, uma vez que os dentes decíduos perdidos precocemente não guardam espaço para os dentes permanentes correspondentes.
Neste caso, pode haver problemas relacionados ao mau posicionamento dos dentes e o comprometimento estético, que resultam em uma sequência de problemas que vão desde o encaixe incorreto das arcadas até a dificuldade para higienização bucal, tornando os dentes vizinhos aos dentes perdidos mais suscetiveis à cárie dentária. “O único cuidado que os pais devem ter é manter a saúde e a higiene bucal dos filhos sempre em ordem”, explica Renata Martins.
Seja de leite ou permanente, precoce ou dentro do prazo, a atenção dos pais é que fará toda a diferença na saúde dos dentes dos filhos, já que nessa idade são eles os responsáveis pela garotada. Por isso a necessidade de ações profissionais preventivas das doenças orais pelo odontopediatra é importante, assim como a continuidade da prevenção em casa, cultivando bons hábitos alimentares e de higiene oral. “Em todas as ações preventivas, os pais e cuidadores devem estar envolvidos e comprometidos, juntamente com um odontopediatra”, explica Dóris Ruiz. Somente assim será possível a construção de um modelo de saúde bucal no qual a saúde oral faz parte da saúde como um todo, resultando em uma qualidade de vida melhor para todas as pessoas.