O Hapvida planeja expandir os negócios nas praças do Ceará e no Nordeste. Mira para acertar no Interior. Esse é um dos objetivos perseguidos pela operadora de saúde, além da aquisição de outras empresas. Para 2019, a projeção de investimentos gira em R$ 200 milhões, mesmo valor empregado no ano passado. Em entrevista ao Focus, o diretor financeiro do Hapvida, Bruno Cals, detalhou a situação que atravessa os planos de saúde no País e a importância do Estado para a companhia.

Focus – Como o senhor enxerga o cenário atual para os planos de saúde?

Bruno Cals – Vivemos um período com crise econômica. O mercado brasileiro como um todo perdeu três milhões de vidas (beneficiários de planos de saúde). Caiu de 50 milhões para 47 milhões em 2018. No Nordeste, não foi diferente. As empresas tiveram que demitir alguns de seus funcionários, o que reflete diretamente no número de pessoas agraciadas com plano de saúde quando se tem emprego formal. A boa notícia, é que parou de piorar.

Neste ano, há sinais de retomada. Diferente de outras empresas, o Hapvida continua crescendo. Mesmo com um 2018 adverso, atingimos o número de 5%. Seja na região Norte ou Nordeste, as perspectivas são boas. Temos quatro milhões de clientes no Brasil e 536 mil apenas no Ceará.

Focus – Qual a receita para crescer diante de um cenário tão adverso?

Bruno Cals – A missão da companhia é atender com qualidade, acolhimento e eficiência de custo. Ter uma infraestrutura de atendimento nas regiões Norte e Nordeste nos ajuda nessa tarefa. Conseguimos manter o controle dessas unidades. São feitos procedimentos através da eficiência operacional, na realização de exames, diagnósticos, atendimento próximo ao paciente. Assim, conseguimos evitar muito o desperdício.

Vou dar um exemplo: um médico que solicita um elevado número de exames. Submete o paciente a uma coleta de sangue, raio X, tomografia, ressonância, mesmo sabendo que não são necessários. Com esse acompanhamento, conseguimos ter custos menores, preços menores e qualidade elevada.

Focus – O que o Hapvida prevê para o Ceará?

Bruno Cals – O Ceará é a nossa casa. É a praça mais importante, onde há o maior número beneficiários da companhia. Temos feito um movimento de interiorização. E esperamos, no Ceará e no Nordeste, em algum momento, avançarmos e provermos uma infraestrutura em cidades do Interior.

Temos clínicas em Sobral e Juazeiro do Norte. Mas nunca olhamos para uma cidade só. Visualizamos todo entorno dela. Se for em Sobral, por exemplo, há outras regiões, como Massapê. Em Juazeiro, há também o Crato e Barbalha.

Para desenvolvermos, precisamos, pelo menos, de uma região com 300 mil habitantes e analisar a situação econômica. A industrialização também é outro fator. Quanto mais empregos formais, mais planos coletivos. São alguns aspectos que precisam ser estudados.

Focus – Quais os próximos passos do Hapvida na área dos investimentos?

Bruno Cals – Investimos 200 milhões no ano passado no País. Devemos investir o mesmo valor em 2019, seja na manutenção e expansão dos negócios.

Acreditamos muito no nosso modelo de negócio. Ele pode ter bastante sucesso em outras regiões do País. Fizemos a listagem na B3 (Bolsa de Valores) e captação de recursos que estão hoje disponíveis para duas expansões. A primeira ocorre de maneira orgânica, construindo e ampliando. A segunda, por meio de aquisições. Mapeamos as empresas que podemos adquirir eventualmente, como ocorreu com a Free Life (Ceará) e Uniplam (Piauí).

Perfil de Bruno Cals

Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Ceará, com mestrado e doutorado em Administração – Linha de pesquisa em Finanças – pela Universidade de São Paulo (USP) e MBA Executivo em Finanças pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Chief Financial Officer da Hapvida desde maio/2016. Professor de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) e da Saint Paul Escola de Negócios. Ex-Assessor de Relações com Investidores na M. Dias Branco S/A. Premiado em 2015 como Melhor Profissional de Relações com Investidores da América Latina – Food & Beverages pela Institutional Investor.

A operadora de planos de saúde cearense Hapvida planeja comprar concorrentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste para ampliar sua atuação nacional, que até o momento está concentrada no Norte e Nordeste. 

Jorge Lima, diretor-presidente da Hapvida, disse em teleconferência com analistas que está confiante em fazer aquisições, em linha com a meta revelada no “roadshow” feito pela companhia. 

“Nossa presença em novas regiões será mais intensa ao longo de 2019”, afirmou Lima. A expansão orgânica no Sul será iniciada no segundo trimestre com a abertura de um hospital de alta complexidade em Joinville (SC), localizado em uma das principais avenidas da cidade. 

Apesar do plano de crescimento em outras localidades, o presidente disse que a operadora conseguiu ganhar participação em planos de saúde de 1,7 ponto percentual no Norte (24%) e de 1,5 ponto percentual no Nordeste (29,2%). Em planos exclusivamente odontológicos, a operadora cresceu 2,7 pontos percentuais em 2018, atingindo 25,5% de participação de mercado nas regiões Norte e Nordeste. 

Os reajustes dos planos de saúde corporativos vendidos pela operadora Hapvida deverão ser entre 1 e 2 pontos percentuais superiores aos dos planos individuais. Bruno Cals de Oliveira, diretor de finanças, disse que para “flexibilizar os reajustes no corporativo, a empresa está oferecendo às empresas o sistema de coparticipação, para ajudar a inibir uso desnecessário do plano, e incentivando a adesão a planos odontológicos”, que neste caso possibilita uma negociação melhor do reajustes. 

Segundo o relatório de resultados, o número de beneficiários da área de saúde cresceu 5,9%, enquanto o do segmento odonto avançou 18,6%. A sinistralidade, que mostra a relação entre despesas assistenciais e o total das receitas com operação de planos, ficou em 60,6% no último trimestre, 2,7 pontos percentuais acima da registrada um ano antes. No consolidado do ano, ficou em 59,7%, um crescimento de 1,3 ponto percentual. 

Esse índice, aliás, deve ser maior no primeiro trimestre de 2019 ante igual período do ano passado. “Esperamos que no início deste ano a sinistralidade seja pior, mas no acumulado de 2019 o índice ficará abaixo de 70%, como foi em 2018”, disse Oliveira.  

O executivo justificou que o comportamento da sinistralidade em 2018 ante 2017 aconteceu devido aos aumentos dos custos com a abertura de novas unidades, ao período de viroses que foi mais intenso no segundo e terceiro trimestres e à alta no ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) e da provisão de eventos ocorridos e não avisados (Peona). 

Segundo Jorge Lima, diretor-presidente da companhia, o aumento do aluguel com partes relacionadas também influenciou a sinistralidade. Parte dos imóveis usados pela Hapvida pertence à família Pinheiro, fundadora da empresa. 

Lima acrescentou que 2018 foi desafiador para a operadora porque nos últimos três anos foram observadas quedas no número de usuários de planos de saúde, o que ocasionou a migração de quase 3 milhões de pessoas para o SUS. “Nas regiões Norte e Nordeste, que temos atuação mais forte, a intensidade da queda foi maior no mercado de saúde suplementar.” 

Neste ano, a Hapvida prosseguirá com a estratégia de verticalização de serviços, segundo o diretor-presidente da empresa. De acordo com Lima, o intuito é internalizar novos serviços como fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia. Na área de diagnósticos a companhia planeja implantar serviços de imagem. 

“Essas medidas ajudam a Hapvida a reduzir os custos com rede credenciada, além de gerir o serviço prestado ao cliente com mais qualidade”, afirmou Lima. O diretor-presidente lembrou que outra fonte de redução de despesas serão as vendas de planos pela internet, que podem reduzir em R$ 5 milhões as impressões de materiais. 

Sobre o ambiente econômico, a expectativa é de que a retomada do crescimento possibilite diminuir os cancelamentos de planos e os usuários deverão permanecer mais tempo com os serviço

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