A Covid-19 foi chegando ao mundo sem alardear a sua abrangência. Partiu da cidade chinesa de Wuhan sem despertar, de imediato, as nações para os impactos que teria. Hoje, todos os países veem os abalos que a pandemia trouxe em perdas de vidas, na economia e no sistema de saúde. Mas a doença não afetou somente esses setores. Está construindo, pouco a pouco, uma nova sociedade que, espero, seja melhor do que a que tínhamos antes.

Uma dessas mudanças, de bastante significado, começa a se refletir no mercado de trabalho. Empresas já anunciando que partirão para o modelo de home office definitivamente, segmentos bastante fortes sofrendo impactos muito negativos, novos modelos de negócio surgindo e alguns até se saindo muito bem durante toda essa crise. De fato, estamos lidando com muitos aspectos imprevisíveis e inimagináveis até poucos meses atrás. 

E os profissionais? Hoje, a maioria das pessoas está executando suas atividades profissionais em casa, e tivemos que desenvolver habilidades que, no escritório, não eram tão imprescindíveis (ou pelo menos não eram notadas com tanta intensidade quanto hoje). 

Para começar, temos que nos dividir entre as nossas esferas profissionais e pessoais – e sei que não está sendo fácil. Para ninguém. E este novo modelo traz consigo um novo formato de vivenciar os papeis: profissional, mãe, pai, filho, afazeres domésticos, etc. Há uma fluidez muito maior entre os diversos papéis que exercemos na vida; as fronteiras realmente se tornaram muito tênues. Onde começa nossa atividade profissional, o cuidado com a casa, as atividades físicas, o cuidado com os filhos e o desenvolvimento profissional e pessoal? Tudo isso passou a acontecer simultaneamente, mostrando a nossa capacidade de lidar com várias frentes ao mesmo tempo e exigindo um nível de organização, gestão do tempo e capacidade de diálogo muito maiores do que anteriormente. 

Além disso, estamos em um isolamento social imposto pelo novo coronavírus que nos pede para encontrar o nosso equilíbrio, porque a ansiedade, o pânico, a angústia e a insegurança – até com relação ao emprego – estão constantemente batendo à nossa porta. 

E somada a tudo isso, vem a produtividade, que está lado a lado com a concentração. Então, posso dizer que o trabalho em casa pede ainda mais concentração e dedicação do que no escritório, o que nos volta à cena de ter de equilibrar o pessoal e o profissional. 

Pois é. Acredito que muita gente esteja pensando, neste momento, que não está sendo fácil reunir motivação, entusiasmo, concentração, saúde emocional, produtividade e qualidade de vida. Mas a boa notícia é: você está exposto a todos estes desafios e certamente sairá desta crise diferente do que entrou. Será um profissional e uma pessoa muito melhor depois de tudo, se conseguir enxergar o aprendizado oferecido. 

Você já pensou que está muito mais autônomo em casa do que no escritório? Ou já percebeu o quanto você tem produzido no home office? Ou ainda, notou que está conseguindo se perceber muito mais do que na rotina de ida e volta do trabalho? E, só para citar mais um exemplo, conseguiu observar que tem aproveitado novas ferramentas para te ajudar na rotina diária e o que te falta para ser um profissional ainda melhor? Consegue perceber que as relações com os colegas de trabalho trouxeram um nível de atenção e de escuta superiores? Que há mais colaboração e disponibilidade das pessoas? E que o nível de confiança se intensificou com a distância? 

Trabalhar em home office já está trazendo para os profissionais a oportunidade de desenvolver adaptabilidade, consciência emocional, disposição para inovar, criatividade, autonomia, concentração, produtividade, consciência de qualidade de vida, necessidade de interação, tomada de decisões, colaboração, uma visão mais aprimorada de gestão de pessoas, sociabilidade, solidariedade, pensamento crítico, dentre outras características. Todas essas habilidades já se fazem imprescindíveis para o profissional do futuro, e estamos tendo a oportunidade de acelerar a aquisição destas novas competências. 

Por isso, comece desde já a desenvolver sua visão e a sua percepção para captar essas habilidades em você. Olhar a pandemia do novo coronavírus como uma oportunidade para melhorar como pessoa e profissional já vai contribuir. Acredito que podemos escolher de forma mais consciente como queremos passar por esta crise. Sair do automático e prestar mais atenção em nós mesmos, nas pessoas ao nosso redor, no ambiente. 

*Rose Gabay é diretora de Recursos Humanos na OdontoPrev, empresa líder em planos odontológicos na América Latina e maior operadora do setor de saúde do Brasil em número de clientes.

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