Tem gente louca para voltar. E outros em pânico só de pensar em retornar. A única certeza em tudo isso é que o ser humano sempre terá opiniões e reações diferentes diante de uma mesma realidade, pois cada um tem a sua lente própria para interpretar as situações. E, para complicar, seguimos recebendo mensagens contraditórias e visões antagônicas o tempo todo; um mar de informações desencontradas.

Então, como podemos agir diante desse cenário? Como encontrar o melhor equilíbrio, tanto do ponto de vista individual, quanto do coletivo?

O caminho é buscar conciliações entre as nossas vontades e desejos individuais e as necessidades de nossa equipe, dos nossos colegas e do nosso negócio. Ter este olhar mais abrangente e esta capacidade de enxergar além do mundo individual não é fácil, mas é altamente relevante neste momento, ainda mais quando se fala em um novo normal.

Mas como será esse novo normal? Todos confinados esperando uma vacina para poder retomar as vidas? E como ficam os planos, os sonhos e o futuro?

Sabemos que ignorar os riscos e retomar a rotina não é viável. No entanto, a boa notícia é que o ser humano tem uma capacidade enorme de aprender e de de se adaptar. Ao longo de toda a história da humanidade vemos a superação, a adaptação e a evolução no nível individual e coletivo. Foram inúmeras adversidades, crises e riscos enfrentados durante a jornada. E o ser humano mostrou a capacidade de se adaptar ao meio, aprender e criar novas soluções. Nossa vida é muito curta diante de todo o percurso da humanidade até aqui.

A questão é que todos querem respostas, modelos…e ainda não os temos. Assim, cabe a nós enfrentar um período de questões em aberto e pôr em prática a humildade de não saber, até mesmo para construir um caminho novo.

Preocupa-me a rapidez com que nos apaixonamos por soluções imediatas: “o home working é sensacional, trouxe muita produtividade”. “Podemos seguir trabalhando neste formato, porque está dando muito certo”. “Em home office há mais foco, disciplina”. “O modelo deu um sentido de urgência à transformação digital”…

Todas estas afirmações refletem o que estamos vivenciando, mas é importante não se jogar de cabeça nestas soluções que parecem resolver tudo. Bom lembrar que estamos vivendo tempos complexos, em que não há um caminho único.

Certamente teremos de nos adaptar aos novos tempos e de conviver com os riscos que se apresentam. Também será necessário aprender a lidar com os medos e inseguranças e, ao mesmo tempo, fazer escolhas sensatas.

Algumas empresas já anunciaram a permanência em home working sem data para voltar. De fato, aprendemos muito com este modelo novo: mais disciplina, mais atenção, objetividade e produtividade são alguns dos ganhos. Mas a médio e longo prazo também podemos sentir o impacto de algumas perdas importantes.

Assim, fortalecer a cultura organizacional e engajar os colaboradores recém-contratados são alguns dos desafios que certamente se apresentarão. Sabe aquele encontro casual no cafezinho que acaba gerando uma frutífera ideia ou desatando algum nó organizacional? Pois é, remotamente isso fica mais difícil.

A questão é que o remoto acaba trazendo uma certa formalidade para as relações, pois temos de agendar um “encontro”, definir o assunto e o horário, e perde-se a casualidade e aquele convívio frequente no qual se acaba transmitindo conhecimento, em que o “coaching” diário ocorre de forma espontânea e onde se forma o “caldo cultural” pelas palavras ditas, expressões, atitudes e interações espontâneas. Isso tudo torna muito mais fácil que diferentes equipes saibam o que as outras estão fazendo e até mesmo acabem “entrando na conversa”, trazendo perspectivas e conhecimentos que podem enriquecer muito a busca de soluções, já que a formação do conhecimento coletivo e a aprendizagem organizacional ocorrem muito além das fronteiras dos treinamentos formais.

Diante de todos esses pontos fica difícil escolher entre os dois modelos. Mas penso que, na realidade, não teremos de fazer esta escolha, mas sim conciliar estes dois formatos. A combinação entre o mundo remoto e o mundo presencial certamente será muito enriquecedora, e a sabedoria estará em utilizar o melhor de cada um deles.

Combinar práticas das duas realidades irá enriquecer profundamente nossas organizações e torná-las mais inclusivas, ágeis e sensíveis a tratar situações com respostas específicas. Bom senso, cuidado e coragem são ingredientes-chave para o novo normal que começa a se delinear em nossa sociedade.

*Rose Gabay é diretora de Recursos Humanos na OdontoPrev, empresa líder em planos odontológicos na América Latina e maior operadora do setor de saúde do Brasil em número de clientes.

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