Praticamente blindados em momentos anteriores de crise econômica, planos exclusivamente odontológicos não ficaram imunes aos impactos da pandemia da Covid-19.

Dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostram que, de março a julho, esses planos perderam 573.847 usuários. Atualmente, 25,3 milhões de pessoas têm planos odontológicos no país.

Assim como nos planos de assistência médica, a queda foi maior em abril e maio. A perda em maio, 341 mil, é a maior redução em um só mês desde 2014.

A queda é maior do que a registrada no setor de planos de saúde, que teve perda de 327 mil usuários. Os dados são da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que regula o mercado. Para especialistas, a situação está ligada ao aumento do desemprego e perda de renda da população.

O setor de seguro odontológico viu aumento em julho, o que pode indicar o início de uma estabilidade e possível recuperação. 

José Cechin, superintendente do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), diz ser possível que, com perda de renda, usuários tenham aberto mão primeiro desses planos para ter salvaguardas se contraíssem coronavírus.

“É possível que, num esforço de preservar o plano de assistência médica, as pessoas abriram mão do plano odontológico.”

Diferentemente dos planos de assistência médica, que tiveram redução quase concentrada em planos empresariais, a queda nos odontológicos também atingiu planos individuais.

Marcos Novais, superintendente do Sinog (Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo), que representa as operadoras, diz que, apesar de variações, a queda não tem paralelo em outros momentos.

Segundo ele, esse tipo de plano têm características diferente dos convênios médicos, com preços menores (de R$ 18 a R$ 25), o que os preservou em momentos anteriores.

“Esses planos não sentiram tanto aquela crise de 2015, 2017 [quando os planos de assistência médica perderam 3 milhões de usuários]. Ele até cresceu”, afirma. “Mas agora sofremos um efeito diferente.”

Ele atribui a queda a um fechamento de pontos de venda. “As vendas não aconteceram”, diz, afirmando ser comum usuários deixarem os planos após tratamentos ou entrarem por período determinado. “Por isso foi uma crise diferente, em que só víamos saída e não víamos entrada.”

Ele vê possibilidade de recuperação com a retomada de atividades. O cenário, no entanto, ainda pode mudar por causa da possibilidade de repique da Covid-19.

Carlos Machado, presidente da Associação Brasileira de Odontologia de Minas Gerais, diz esperar aumento na busca por atendimentos odontológicos pela população nos próximos meses em razão da demanda reprimida na pandemia.

“Já vemos maior demanda na parte curativa do que na parte preventiva”, afirma.

Segundo Novais, o setor tem como desafio implementar uma cultura de prevenção para reter usuários.

Questionada sobre a redução de usuários de planos, a ANS diz estar atenta ao cenário e que “tomará todas as medidas necessárias para preservar a assistência aos beneficiários, a sustentabilidade e o equilíbrio do setor, sempre precedida de estudos técnicos que garantam a viabilidade das ações e baseada em informações precisas”.

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