Patologia ainda pouco conhecida, a endocardite bacteriana pode surgir de uma simples lesão na boca e levar o paciente à morte. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 20% dos doentes não sobrevivem. Porém, quando o foco é dentário, ela chega a ser responsável por cerca de 10% dos casos de morte em todo o mundo.

A endocardite é uma doença causada por uma infecção que agride o endocárdio (tecido que reveste a parte interna do coração). Geralmente acontece quando bactérias ou quaisquer micróbios atingem e se espalham por todo o sistema sanguíneo até chegar às válvulas do coração. O quadro pode surgir quando há sangramentos na boca e gengiva provocados pela mastigação ou por uma simples escovação dos dentes e uso de fio dental, que aumentam a possibilidade de bactérias ou mesmo fungos terem contato com a corrente sanguínea.

Segundo Rodrigo Bueno, professor e assessor científico da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD), o problema é raro em pessoas de coração saudável. “Mas o comprometimento da saúde oral está associado à endocardite infecciosa. A doença afeta o coração com rapidez e pode comprometer as funções vitais”, explica.

O Instituto do Coração (InCor) registra, a cada mês, de seis a sete pacientes com endocardite. Por ano, são diagnosticados, em média, 100 casos da doença. Cerca de 50% destes episódios têm origem bucal e são descobertos tanto por infecções espontâneas, resultantes de dentes ou gengivas em mau estado, quanto pela manipulação de área infectada para tratamento odontológico. Nestas ocorrências, o que provoca a doença é a bactéria Streptococcus viridans, que habita normalmente a boca, sem provocar qualquer dano. No entanto, ao entrar na circulação, vai parar no coração e pode causar a endocardite.

A saúde bucal é uma parte importante de nossa saúde geral, mas poucas pessoas sabem e dão seu devido valor. A boca é a maior cavidade do corpo humano em contato com o mundo exterior. Por suas características e funções, é um ninho de bactérias. Quando o equilíbrio dela se quebra, podem surgir o que dentistas e médicos chamam de doenças periodontais (gengivite e periodontite), inflamações na gengiva ou no tecido que une os dentes ao osso. Em suas formas mais graves, elas contribuem para o desenvolvimento de distúrbios cardíacos.

“O risco é maior em pacientes com histórico de má-formação congênita na membrana que reveste o coração, em pacientes com cardiopatia reumática ou prótese valvar e nos idosos com mais de 60 anos”, reforça Giuseppe Alexandre Romito, professor titular da disciplina de periodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP).

Para Bueno, a própria questão da endocardite e da sua associação com complicações prévias da saúde bucal – caso de cáries, infecções das gengivas e outras lesões abertas e persistentes – demonstra que cuidados com a boca significam bem mais do que manter um sorriso bonito e bem cheiroso. “Problemas mais sérios poderiam ser prevenidos por cuidados regulares de higiene e retornos periódicos ao dentista que, se forem negligenciados, chegam ao extremo de colocar a vida das pessoas em risco”, avisa.

Considerando que a endocardite é uma doença que prejudica o bombeamento sanguíneo e associa-se ao prejuízo no funcionamento ideal do coração, muitos sintomas podem sinalizar consequências diretas e indiretas desse problema.

A ABCD destaca alguns, como febre e calafrios; fadiga; sopro no coração; dor nos músculos e articulações; sudorese noturna; palidez; tosse persistente; perda de peso não intencional; sangue ou outras alterações na urina; suor nos pés, pernas e abdômen; pontos vermelhos dolorosos embaixo da pele dos dedos e pequenas manchas roxas ou vermelhas na pele, além de manchas brancas nos olhos e dentro da boca.

Uma vez confirmado o diagnóstico, para realizar o tratamento adequado, é necessário manter o paciente internado por um longo período (pelo menos um mês), em uso de antibióticos endovenosos em altas doses. “Em decorrência da alta mortalidade, em torno de 25%, devemos ficar atentos às complicações clínicas possíveis, como agravamento da lesão valvar preexistente, insuficiência cardíaca, embolias sépticas sistêmicas e insuficiência renal. Em 35% dos casos há necessidade de cirurgia cardíaca”, diz Bueno.

Dessa forma, a prevenção da endocardite é de grande importância. “A duração do tratamento vai depender da intensidade do problema, de quão severa foi a infecção e da resposta do organismo contra a bactéria. Por isso, recomendamos que todas as pessoas façam a escovação dos dentes de forma correta, pelo menos três vezes ao dia, e usem fio dental e flúor. Ter o acompanhamento de um dentista a cada seis meses também é indicado”, completa Romito.

Dicas para a prevenção da doença

  • Não negligenciar os cuidados com a saúde bucal.
  • Evitar hábitos nocivos como fumar, usar drogas e beber em excesso.
  • Buscar aconselhamento médico e odontológico de precaução ao longo da vida (desde a juventude).
  • Ficar atento ao histórico familiar para risco cardiovascular.

Fonte: ABCD – Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas

 

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