Fonte: Publicado originalmente em Odontologia de Grupo em Revista nº 20 – Por Camila Pupo

Os danos provocados pelas drogas ilícitas afetam a saúde como um todo, e neste contexto também está a saúde bucal. Cada droga age de uma forma, mas todas trazem prejuízos severos aos dentes.“Geralmente usuários crônicos de drogas acabam por não cuidar da higiene pessoal e principalmente bucal, o que traz diversos problemas. A diminuição da imunidade acarretada pelo uso de drogas leva a infecções, além da incidência de úlceras na mucosa da boca que, associadas à presença de placa bacteriana, podem ser a porta de entrada para microrganismos que determinam focos infecciosos em outras regiões do organismo”, esclarece Walter Serolli, mestre em Ciências da Saúde e estomatologista da APCD – Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas.

Um fator muito comum em usuários de drogas é a xerostomia, conhecida como boca seca. Diego Lins, ortodontista e mestrando em medicina dentária na Universidade Paris-Sud, explica que as drogas utilizadas em forma de cigarro ou cachimbo, como a maconha ou o crack, além dos fatores químicos, possuem uma fumaça que agride o esmalte dos dentes, as gengivas e a inervação. A cocaína, pela prática de esfregar o produto nas gengivas e nos dentes, altera a saliva, deixando-a mais ácida e acarretando uma série de problemas bucais como desmineralização do esmalte, doenças gengivais e, consequentemente, sensibilidade e dor. Substâncias como o ecstasy e metanfetaminas são causadoras de uma agressão maior ainda, com alteração salivar, que vai desencadear cárie em menor espaço de tempo, gengivites e até mesmo o ranger de dentes como o bruxismo.

De forma geral, os principais danos decorrentes do uso de drogas ilícitas estão ligados às cáries com diferentes graus de gravidade, além de infecções gengivais, como a gengivite e periodontite. “Não podemos esquecer que, se o usuário de drogas não tem uma boa saúde bucal, ele não vai se alimentar bem e, consequentemente, outros danos vão surgir. Normalmente, esses pacientes acabam precisando arrancar dentes ou fazendo tratamentos de canal devidos a um longo período usando drogas”, ressalta Lins. As intervenções odontológicas mais comuns em usuários crônicos de drogas ilícitas são a profilaxia, tratamento periodontal e extração de dentes, mas a colaboração deles costuma ser difícil.

“O paciente precisa se submeter aos mais variados métodos para tratar o vício, mas, enquanto isto não acontece, o dentista trata as consequências bucais para que se agravem o mínimo possível no intuito de preservar ao máximo sua saúde”, explica Lins. A conscientização dos riscos que as drogas trazem também cabe ao dentista, embora exista a dificuldade para que o próprio paciente confirme a prática. É preciso que o profissional saiba identificar as características que este paciente apresenta e, feita a confirmação, é necessário orientá-lo para que a higiene bucal seja efetuada de maneira suficientemente satisfatória, a fim de evitar danos maiores. Serolli lembra que é importante deixar claro para o paciente que a confirmação de que ele faça uso de drogas ilícitas está incluída no sigilo profissional, que não pode ser revelado a ninguém, exceto por ordem judicial.

“É comprovado que, com uma boca em perfeitas condições, o paciente pode se inserir mais facilmente na sociedade. Os profissionais da área da psicologia, psiquiatria ou qualquer tipo de terapia associada também deveriam ter como uma de suas metas a promoção da saúde bucal. O papel do dentista seria mais atuante e se tornaria mais um pilar no qual o paciente se sustentaria para não mais cair no vício” diz Lins.

 

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