Além do aumento em casos de bruximos e fraturas dentárias após os meses de quarentena, alguns profissionais de odontologia e saúde bucal começam a relatar também uma alta nas buscas por procedimento estéticos como harmonização facial, bichectomia e aplicação de botox. “As pessoas fizeram muitas lives e, se vendo depois no vídeo, queriam mudar o sorriso, melhorar a cor dos dentes, alguns também quiseram retocar a face”, aponta Mario Cappellette, presidente do núcleo paulista da Associação Brasileira de Odontologia (ABO-SP). 

 

O movimento foi sentido também por Kamila Godoy. Pesquisadora da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) e ortodontista, ela diz que primeiro começou a receber pacientes com dentes quebrados, fissuras e dor na articulação temporomandibular (ATM). Em meados de julho, a demanda mudou. “Houve aumento absurdo de procura por procedimentos estéticos. As pessoas queriam aproveitar o momento para fazer algum procedimento que precisasse de repouso e, por ter que ficar em casa, houve uma procura bem alta de cirurgias para retirar o siso, bichectomia (procedimento para reduzir as bochechas) etc.”, conta.

 

“A questão de ficar em casa levou a um tempo ocioso muito grande. Como aumentou também o uso de redes sociais, a pessoa passou a vislumbrar a imagem dela com mais frequência e visualizar pessoas ‘perfeitas’ o tempo todo”, explica a psicóloga Katree Zuanazzi, diretora do Instituto Brilhar Saúde Mental, de Curitiba. 

 

Ela aponta que há uma diferença entre buscar o aperfeiçoamento e a mudança completa do rosto, provocado pelo mar de filtros e falsas perfeições que as redes sociais oferecem. “Todo mundo tem algo que gostaria de melhorar ou que não é perfeito. É importante ver quais desejos são amadurecidos e vêm de anos. Toda ideia que vem de repente foi, provavelmente, implantada por redes sociais ou ideais de perfeição.”

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